JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO: O evangelista que entregou a vida pela evangelização do Brasil
JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO: O evangelista que entregou a vida pela evangelização do Brasil
O que você lerá agora é um breve resumo da história do maior evangelista que o Brasil teve no século XIX. Um homem que não tinha sua vida por preciosa contanto que cumprisse com alegria o seu ministério (Cf. Atos 20:24).
Enquanto padre, Conceição tinha práticas pouco ortodoxas como não receber os emolumentos (cobrança de taxas) pela prática de serviços religiosos, vivendo apenas das côngruas (salário pago pelo Estado aos clérigos da Igreja Católica, por ser a religião oficial do Império).
Além disso, em determinadas ocasiões, ao substituir os ícones das Igrejas, ele simplesmente quebrava as velhas imagens e as enterrava.
Seus sermões eram repletos de citações de autores alemães.
Por fim, não aceitava ouvir confissão.
Isso tudo fazia com que sua fama crescesse. Por onde passava, logo era chamado de padre protestante.
Sua conversão se dá após uma conversa com o missionário presbiteriano Alexander Blackford, em Rio Claro/SP.
Após essa conversa, para a estranheza de um protestante racionalista como Blackford, Conceição se converterá após uma experiência de fé, em 2 de outubro de 1864:
“Foi só no instante em que, compreendendo que o sangue de Jesus Cristo purifica de todo o pecado, também comecei a senti-lo, e começando a senti-lo achei o que em toda minha vida procurava debalde fora do Evangelho — a paz da alma que o mundo não pode dar nem tirar”.
Em 4 de outubro de 1864, Conceição escreverá sua carta de abjuração da fé católica para o bispo de São Paulo, dom Sebastião Pinto do Rego.
Essa carta é uma exposição do que ele passou a crer e se tornou uma apologia da fé evangélica. Em certo trecho diz:
“Salvação de graça: ‘A salvação é um dom concedido de graça aos que crêem no Filho de Deus’.
Sacerdócio universal dos crentes: ‘O dom do Espírito Santo acompanha a remissão dos pecados, ele é o autor da nova vida interior em que consiste a essência do Cristianismo’.
E a Bíblia única regra de fé: ‘Quando a Bíblia correr pela mão de todos os povos, então se hão de realizar as promessas do Salvador, que a religião dele prevalecerá em toda a terra’.”
Em 16 de dezembro de 1865, Conceição é ordenado pastor da Igreja Presbiteriana.
Porém, como nunca deixou de ser polêmico, Conceição deu muito trabalho aos irmãos super organizados do seu presbitério.
Em diversas ocasiões, seus colegas de ministério pediram para ele aceitar o convite e se estabelecer como pastor em uma congregação.
Mas, para o ex-padre, a evangelização em longas caminhadas pelos mesmos lugares que antes havia sido pároco era a prioridade do seu ministério.
Para Conceição, se tivesse uma mula para viajar, ótimo. Mas, se não tivesse, ia a pé mesmo, caminhando por quilômetros.
Dentre as fontes históricas que o historiador pode acessar para compreender esse período, há os Relatórios Pastorais.
Nesses documentos, os missionários registravam tudo o que haviam feito por um período de um ano de evangelização. O documento era apresentado nas reuniões presbiterais.
Os relatórios de Conceição sempre eram os mais longos. Ele fez viagens que alcançaram a região do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, interior de São Paulo e de Minas Gerais.
Em algumas localidades, ele era bem recebido, como em Taubaté ou em Guaratinguetá, em que recebeu até o apoio de padres locais.
Em outras localidades, porém, sofreu forte oposição, como em Lorena ou em Campanha da Princesa, onde foi espancado.
José Manoel da Conceição morreu em 25 de dezembro de 1873, após sua última viagem missionária a pé, passando por Lorena, Sorocaba, Itapetininga e Itapeva.
Ao continuar viajando a pé para o Rio de Janeiro, Conceição foi surpreendido por um policial que desconfiou de sua condição por estar descalço — já havia perdido os sapatos após tanta caminhada — e mal trajado.
Detido, gastou seus últimos recursos financeiros se alimentando, o que o impediu de pegar o trem na última estação de então em Piraí. Continuou caminhando até cair fatigado em uma venda em Vicente de Carvalho.
Daí, foi identificado pelo subdelegado de Irajá, Honório Gurgel do Amaral e levado para a Enfermaria Militar do Campinho, na cidade do Rio. Morreu dormindo na noite de Natal.
Por Pedro Henrique Medeiros, historiador.
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