AURELIANO CÂNDIDO TAVARES BASTOS: O MAIOR DEFENSOR DA LIBERDADE RELIGIOSA DOS PROTESTANTES NO BRASIL IMPÉRIO
Aureliano Cândido Tavares Bastos: O maior defensor da liberdade religiosa dos protestantes no Brasil Império
A principal luta que os primeiros missionários protestantes enfrentaram no Brasil imperial foi a concessão da liberdade religiosa.
A legislação era contrária ao proselitismo religioso e a arquitetura das igrejas protestantes não poderia ter a aparência de templos.
Porém, no processo de inserção dos protestantismos no Brasil, os missionários contaram com alguns auxílios importantíssimos. Dentre os mais significativos da década de 1860, este post destaca o político liberal Aureliano Cândido Tavares Bastos.
Tavares Bastos era um político alagoano, bacharel e doutor em Direito pela Academia de São Paulo.
Foi eleito deputado geral pela província de Alagoas em 1861. Ao longo de sua carreira política sustentou como suas principais bandeiras o federalismo e a liberdade religiosa.
Foi um dos maiores críticos à centralização política do Estado Imperial, isto é, à dependência a qual as províncias estavam submetidas à Corte no Rio de Janeiro.
Em suas obras, esse assunto sempre estava em pauta. Algumas dessas obras foram:
Os Males do Presente e as Esperanças do Futuro (1861);
Cartas do Solitário (1862);
O Vale do Amazonas (1866);
A Província (1870).
O historiador Marcello Basile assinala que essas obras contribuíram decisivamente para a renovação do pensamento liberal no Brasil Império.
Até o imperador d. Pedro II ficara impressionado com a habilidade argumentativa de Tavares Bastos, que assinava a maior parte de seus escritos com pseudônimos, por exemplo: O Excêntrico, em Os Males do Presente…; O Solitário, nas Cartas…
Porém, ao descobrir quem era a pessoa por trás dos pseudônimos, d. Pedro considerou que Tavares Bastos ainda era muito novo para ser levado tão a sério. Infelizmente, morreu ainda jovem, com 36 anos de idade, vítima de uma pneumonia.
Paralelo ao federalismo, Tavares Bastos foi o maior defensor da liberdade religiosa no Brasil imperial.
Enquanto pesquisadores, é importante perceber porque um político como Tavares Bastos teria passado a defender a liberdade religiosa se ele mesmo nunca se converteu ao protestantismo.
A questão central era a defesa da imigração europeia para o Brasil para substituição da mão-de-obra escrava.
Essa política havia se iniciado ainda com d. João VI, no início do século, com foco no povoamento do interior do Brasil.
Após o fim definitivo do tráfico negreiro em 1850, pela Lei Eusébio de Queiroz, a necessidade de se pensar em estratégias para substituição da mão-de-obra escrava se aprofundou.
Some-se a isso a memória traumática que os políticos guardavam da Revolta de Ibicaba, quando imigrantes suíços protestantes se revoltaram contra as péssimas condições de trabalho da fazenda do então maior defensor da imigração europeia, Nicolau de Campos Vergueiro, que incluía a falta de liberdade religiosa.
Após esse fato, missionários protestantes sempre utilizavam essa lembrança para não serem importunados pelos poderes políticos brasileiros.
Robert Kalley, em 1859, alertou o governo brasileiro, ao ser ameaçado de extradição se continuasse a pregar o Evangelho para católicos membros da elite imperial.
Kalley avisou que se ameaça continuasse, ele enviaria cartas para a Europa, informando que no Brasil não havia liberdade religiosa e, por isso, não deveriam enviar trabalhadores para cá.
A ruína das lavouras era o maior medo das elites imperiais.
Em 1860, Tavares Bastos atuou em prol da liberação de um carregamento de folhetos evangelísticos encomendados por Robert Kalley que tinham por título O Ladrão da Cruz.
Tavares Bastos defendeu que impedir a liberação dos folhetos era um “ato inaudito de autoridade” e que isso prejudicava a política de imigração.
É a partir disso que podemos entender a importância das ideias de Tavares Bastos, incluindo seu amor pelos Estados Unidos.
Após a Guerra Civil americana, Tavares Bastos trabalhou na organização da Sociedade Internacional de Imigração, com a esperança que o Brasil receberia uma quantidade imensa de imigrantes confederados americanos. Isso não ocorreu.
Os poucos que vieram, porém, fundaram as colônias de Santa Bárbara do Oeste e Americana em São Paulo.
Mas isso não impediu que Tavares Bastos continuasse a defender suas ideias de liberdade religiosa em prol da imigração:
“Desde que o estrangeiro reconhecer que a liberdade de crença é apenas uma palavra no Brasil, poderá procurar-nos com entusiasmo? […] É preciso mudar de hábitos, é preciso por outra alma no corpo do brasileiro […] colocar o Brasil no mais estreito contato com as raças viris do norte do globo”.
Aureliano Candido Tavares Bastos — Cartas do Solitário (1862)
Por fim, é importante ressaltar que essa ideia não era racialista ou racista, mas questão de geopolítica e economia.
Isso porque, ao acompanhar uma expedição antropológica de Louis Agassiz pelo Brasil e depois ter lido os resultados de sua pesquisa no exterior, nitidamente racista, declarando que a razão do atraso do Brasil era devido à mestiçagem, Tavares Bastos defenderá que, pelo contrário, a maior força do Brasil residia exatamente em seu povo mestiço.
Por Pedro Henrique Medeiros, historiador.
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